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Ingestão de cálcio e risco de morte

Um é pouco, dois é bom e três é demais. Certamente, você já deve ter ouvido ou citado isso várias vezes e em circunstâncias diversas. Pois bem, o sentido deste ditado se aplica perfeitamente ao tema que comentaremos aqui: a associação entre a quantidade ingerida de cálcio e o risco de morte. Expliquemos:

O cálcio é um dos minerais mais abundantes no corpo humano e desempenha papéis fundamentais em sua fisiologia. Sabe-se que a ingestão reduzida de cálcio pode levar à perda mineral óssea e, consequentemente, elevar o risco de fraturas.  Sendo assim, a maioria dos consensos atuais recomenda que, para prevenção de fraturas em pessoas idosas, deve ser evitada a baixa ingestão de cálcio (<600 mg/dia). Fraturas são comuns, sobretudo em mulheres idosas, e comumente estão associadas a grandes incapacidades, assim como elevados custos e mortalidade. Ingestões insuficientes deste mineral podem induzir ainda o hiperparatiroidismo secundário, o qual, por sua vez, também está associado à maior mortalidade.  Ademais, estudos prévios sinalizaram que o consumo reduzido de cálcio esteve relacionado ao maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) e doenças isquêmicas fatais do coração.

Vamos agora ao outro lado da moeda. O uso de suplementos de cálcio pela população tem sido muito comum. Estudos americanos estimam que até cerca de 60% das mulheres idosas utilizam tais produtos.  Nos últimos anos, contudo, importantes estudos de metanálise têm indicado que a utilização de tais suplementos eleva o risco tanto de infarto agudo do miocárdio como de AVC em 25 a 30% e em 15 a 20%, respectivamente.

Há cerca de dois meses, o conceituado Bristish Medical Journalpublicou um importante estudo que teve como objetivo investigar a associação entre a ingestão de cálcioa longo prazo, seja  na dieta ou na forma de suplementos, com o risco de morte por todas as causas e por doenças cardiovasculares. Cerca de 61000 mulheres suecas, nascidas entre 1914 e 1948, foram avaliadas e acompanhadas por um período médio de 19 anos. Observou-se que o consumo elevado de cálcio (> 1400mg/dia), quando comparadoàquele entre 600 a 1400mg/dia, esteve associado de forma significativa à maior mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares. O risco de morte por qualquer causa foi 40% maior nas mulheres com ingestão elevada.  O aumento neste risco, porém, foi apenas moderado naquelas que ingeriam muito cálcio através da dieta, sem a utilização de suplementos.

Com tudo o que foi colocado aqui, pode-se concluir, portanto, que para prevenir fraturas em idosos e, simultaneamente, evitar os efeitos graves do elevado consumo de cálcio, como a morte, ênfase deve ser dada aos indivíduos com ingestões reduzidas, ao invés de estimular o aumento do consumo naqueles que já fazem uso de quantidades satisfatórias.

Referências: Bolland MJ et al. Calcium suplements with or without vitamin D and risk of cardiovascular events: reanalysis of the Women´s Health Initiative limited acess dataset ant meta-analysis. BMJ 2010;342:d2040. | Michaëlsson K et al. Long termcalcium intake and rates of all cause and cardiovascular mortality: Comunity based prospective longitudinal cohort study. BMJ 2013;346:f228.

Daniel Gomes – Geriatra e Clínico
daniel.gomes@clinicaqualivida.com.br

 
 
 

2018-04-14T05:23:21+00:00

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