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Hepatite C em Idosos

A hepatite C constitui um importante problema de saúde pública, visto que afeta aproximadamente 3% da população global. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 170 milhões de indivíduos no mundo apresentam infecção crônica pelo vírus da hepatite C (HCV).

Doença hepática crônica (DHC) está entre as dez principais causas de óbito nos Estados Unidos (EUA). A infecção crônica pelo HCV, por sua vez, representa a causa mais comum de DHC naquele país, sendo responsável por cerca de 57% dos casos. Dez a 20% dos pacientes cronicamente infectados pelo HCV progridem para cirrose hepática e 5% desenvolvem carcinoma hepatocelular (HCC).

Em virtude do fenômeno de envelhecimento populacional, observado em grande parte dos países ao longo das últimas décadas, inclusive no Brasil, e da diminuição significativa de novas transmissões do HCV via hemotransfusão, espera-se um aumento da prevalência mundial de hepatite C em idosos nos próximos anos.

Dados sobre a epidemiologia, história natural e aspectos clínico-laboratorias da infecção crônica por HCV em pacientes idosos permanecem escassos.

A prevalência de hepatite C na população idosa varia bastante entre os diferentes estudos. Num estudo que incluiu 21241 participantes nos EUA, a prevalência de anti-HCV positivo nos indivíduos com mais de 60 anos variou entre 0.9% a 1%.  Já um estudo conduzido na Itália com 496 idosos encontrou uma prevalência de anti-HCV positivo em torno de 11%. Poucos são os dados confiáveis sobre a prevalência da doença em idosos brasileiros.

Os principais fatores de risco para a infecção por HCV em idosos são: antecedentes de hemotransfusão, de cirurgia ou uso de seringas não-descartáveis, prática muito comum em décadas passadas.  Vale lembrar que até 1992 não era realizada triagem nos bancos de sangue para hepatite C. Passado de serviço militar em guerra, tatuagem, hemodiálise e trabalho como profissional de saúde são outros fatores de risco identificados para hepatite C nesta população.

A idade avançada de pacientes com infecção por HCV parece estar associada a maior gravidade da doença hepática e ao desenvolvimento mais rápido de cirrose e HCC. Um estudo italiano com 392 pacientes com história de apenas uma transfusão de sangue no passado apontou que o tempo decorrido entre a suposta aquisição do vírus (no caso, a hemotransfusão) e o desenvolvimento de cirrose foi menor nos pacientes com idade mais avançada à época da contaminação. O tempo médio entre a transmissão da infecção e a evidência de cirrose foi de 33 anos nos pacientes que adquiriram o vírus com 21 a 30 anos de idade. Já naqueles com idade maior que 40 anos, esse período durou, em média, 16 anos. No estudo de Tong et al, o tempo médio evidenciado entre o momento da hemotransfusão (supostamente, o momento da aquisição do HCV) e o desenvolvimento de HCC foi de 14,7 anos nos pacientes com 50 anos ou mais, ao passo que naqueles com idade inferior a 50 anos esse período foi de 31,5 anos.

Estudo retrospectivo envolvendo 6865 idosos com hepatite C evidenciou que, à biópsia hepática, os pacientes com 65 anos ou mais apresentavam graus mais elevados de fibrose hepática quando comparados àqueles com menos de 65 anos, independentemente da duração da infecção.

No que tange às manifestações clínicas da hepatite C em idosos, Thabut et al identificaram que complicações de DHC (icterícia, sangramentos, ascite, hepatocarcinoma) constituíram a apresentação inicial da infecção pelo HCV mais freqüentemente em idosos do que em pacientes mais jovens.

O tratamento da hepatite C em idosos segue as mesmas linhas preconizadas para os indivíduos mais jovens e inclui, essencialmente, a associação de interferon peguilado e ribavirina. Entretanto, alguns estudos têm apontado que pacientes mais velhos apresentam menores taxas de resposta virológica sustentada. Idade avançada por si só não constitui contra-indicação ao tratamento, todavia, a decisão de instituí-lo deve ser feita de forma individualizada, uma vez que comumente outras co-morbidades importantes estão presentes nos idosos.

Em suma, a hepatite C é um problema crescente entre os idosos, deve ser freqüentemente pesquisada nesta população, especialmente nos indivíduos expostos anteriormente aos conhecidos fatores de risco, apresenta conseqüências ainda mais graves e freqüentes nesta faixa etária e seu tratamento é possível.

 

Daniel Gomes – Geriatra e Clínico
daniel.gomes@clinicaqualivida.com.br

 
 
 

2018-04-14T05:23:39+00:00

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