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A (H1N1) mais um vírus?

O novo vírus que assombra o mundo e coloca os sistemas de saúde nacionais e a OMS em alerta pode não ser tão ameaçador, afirmam especialistas

m 25 abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou o mundo sobre um evento considerado Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII): o aparecimento, no México, de um vírus de infuenza de origem suína e potencial letalidade. No espaço de apenas quatro dias, a OMS subiu o alerta mundial para eventos pandêmicos do nível 3 para o 5. Finalmente, em 12 de junho último, a Organização anunciou a primeira pandemia moderada de gripe, em 41 anos, alegando que os casos verificados na Europa, na Austrália e na América do Sul eram determinantes para justificar o alerta máximo. Os números eram, então, de 28,7 mil casos da doença em 74 países e de 144 mortes. Enquanto isso, os especialistas procuram compreender melhor as características e o comportamento do novo vírus.

“Ainda há muito espaço para especulação, porque existe mais desconhecimento do que conhecimento sobre esse vírus”, afirma Oscar E. Morales, médico veterinário, consultor para a América Latina do programa Stop AI (Avian Influenza), desenvolvido pela United States Agency for International Development (USAID), do governo dos Estados Unidos. Entre os debates sobre o novo vírus, encontra-se a própria denominação “influenza suína”, já abandonada por especialistas e autoridades de saúde. “O vírus, que é humano, foi chamado de suíno porque tem 80% de informação genética da espécie suína – duas linhagens da América do Norte e da Eurásia -, além de genes humanos e de aves”, explica Terezinha Maria de Paiva, virologista chefe da Seção de Vírus Respiratórios do Instituto Adolfo Lutz, organização integrante da Rede Global de Vigilância de Influenza da OMS.

Patogenicidade e letalidade

A origem do A (H1N1) também tem sido objeto de especulação. Enquanto um grupo de cientistas realiza, ainda sem sucesso, investigações na localidade de La Gloria, nas montanhas de Veracruz, México, em busca do “epicentro” da epidemia, circulam na internet teorias de que as práticas atuais de criação industrial de animais, que incluiriam o uso exagerado de antibióticos e hormônios, além de altas densidades de alojamento nos galpões, favoreceriam o surgimento de vírus como os da influenza aviária e suína. “Teorias como essa não têm fundamento científico”, afirma Tuba Milstein Kuschnaroff, professora titular de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. “A contaminação ave/humano que deu origem ao H5N1, por exemplo, aconteceu no Sudes- te Asiático, onde tipicamente as aves são criadas no quintal de casa e não em ambiente industrial. Veja o que aconteceu com o ebola: um caçador se contaminou entrando numa caverna na África.” Oscar E. Morales concorda que a teoria de fato não procede.

“O desenvolvimento da indústria agropecuária nos últimos 20 anos tem trazido melhores condições de biossegurança”, diz o consultor do Stop AI. “Porcos de quintal estão mais expostos ao vírus de influenza de outras espécies, tanto de humanos, como de aves, como gansos e patos.” Se a origem do vírus A (H1N1) permanece obscura, o perfil de patogenicidade e letalidade da nova influenza já começa a clarear. “Graças às metodologias de sequenciamento genético sabemos que o vírus A (H1H1) não tem o poder de virulência das influenzas que causaram pandemias graves, como  de 1918”, informa Terezinha Maria de Paiva. “A letalidade da nova gripe, de 0,78%, é semelhante à da influenza sazonal, que é de 0,5% e causa a morte de 500 mil pessoas por ano.”

Segunda onda

O que motiva as autoridades de saúde a não afrouxar a vigilância epidemiológica é o conhecimento de que os eventos pandêmicos de influenza apresentam-se em ondas, com duração aproximada de seis meses. “A segunda onda costuma ser mais virulenta”, alerta Tuba Milstein Kuschnaroff. Para a OMS, conta o fato de que a temporada de inverno no Hemisfério Sul está apenas começando, e a época favorece a aglomeração nos centros urbanos das populações mais vulneráveis à influenza, como os jovens. É com essa preocupação que os sistemas de saúde têm investido nas estratégias de contenção, nos diversos países, sob a orientação da OMS, com ênfasenas medidas não farmacológicas, tais como a vigilância em aeroportos, o manejo rigoroso dos casos suspeitos e confirmados – que inclui quarentenadomiciliar e tratamento em isolamento, realizadoem hospitais de referência -, além do incentivo à adoção de medidas de higiene mais rigorosas pela população e, dependendo do caso, o desestímulo ou até a proibição das aglomerações de pessoas.

“A ideia é ganhar tempo até que se consiga produzir uma vacina”, diz Terezinha Maria de Paiva. Segundo a pesquisadora, os estudos para a produção de uma vacina contra a influenza A (H1N1) por engenharia genética e metodologia recombinante estão adiantados: o vírus isolado na Califórnia, em células e ovos embrionados, já foi colocado pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention, Estados Unidos) à disposição dos centros colaboradores da OMS, para testes antigênicos e genéticos. “Também já foram realizados estudos da resposta imune da infecção pelo vírus em furões”, informa Paiva. E a vacina pode ser feita em quatro meses, a partir da decisão da OMS de forneceresse material aos laboratórios.

Jovens em risco

Como ainda não existem dados suficientes para determinar com precisão os segmentos da população mais sensíveis à influenza A (H1N1), órgãos oficiais de saúde como a OMS e o CDC consideram como grupos de risco os mesmos expostos à influenza sazonal: crianças com menos de 5 anos, idosos, grávidas e imunodeprimidos, além de adultos e crianças com doenças crônicas de natureza pulmonar, cardíaca, hepática, hematológica, neurológica, neuromuscular ou metabólica. Apesar do destaque dado aos idosos, nos grupos de risco da gripe sazonal, há indicações de que a nova influenza pode bater mais forte nos jovens de 18 a 25 anos. Um teste recente realizado por cientistas do CDC, em Atlanta, sugere que pessoas acima de 60 anos têm, de fato, uma defesa maior ao vírus da influenza A (H1N1). Os especialistas americanos misturaram o vírus da nova influenza com amostras de sangue de indivíduos saudáveis, tomadas no passado nos Estados Unidos e na Europa, e perceberam que aqueles com 60 anos ou mais mostraram significativa proteção contra o vírus.

O mesmo não aconteceu com os jovens adultos. Reforçando esses achados, corrobora o fato de que, até o momento, 60% dos pacientes de influenza A (H1N1) nos Estados Unidos têm menos de 25 anos. As explicações possíveis incluem duas hipóteses não mutuamente excludentes. As pessoas idosas já teriam se exposto no passado a vírus similares ao da influenza (H1N1), em episódios de gripe sazonal ou por meio de vacinação. A segunda hipótese é a de que indivíduos jovens possam apresentar uma resposta imunológica exagerada ao novo vírus, em decorrência do excesso na liberação de citocinas, o que levaria a problemas respiratórios graves. “Uma reação imune exagerada por parte de pacientes jovens, com complicações, já foi relatada em estudos sobre a gripe de 1918 e a influenza aviária”, informa a infectologista Tuba Milstein Kuschnaroff.

Fonte: Revista Pesquisa Médica

2018-04-14T05:23:40+00:00

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