R. Antônio Gomes de Freitas
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Carga pesada

O  fenômeno  mundial  do  envelhecimento populacional eleva a curva de incidência de doenças crônico- degenerativas como a osteoartrose, que afeta a cartilagem articular, leva à deformidade e à limitação funcional, além de causar dor progressiva e até rigidez.

A alta prevalência e o custo elevado de tratamento da osteoartrose levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a definir o período que vai de 2000 a 2010 como A Década dos Ossos e das Articulações para chamar a atenção de médicos e pacientes. Mais de 20 milhões de pessoas estão acima dos 60 anos no País, o equivalente a 11% dos brasileiros. Desse total, 28% apresentam osteoartrose sintomática, aquela que obriga o indivíduo a procurar tratamento médico. A doença inflamatória e degenerativa afeta preferencialmente as articulações de carga da coluna lombar, do quadril e, principalmente, dos joelhos (46% dos casos), provoca a destruição da cartilagem articular, causando deformidade e limitação funcional, dor progressiva e até rigidez, com o passar do tempo.  A doença tem forte impacto socioeconômico, daí ser considerada uma das afecções reumáticas mais importantes. É responsável por 7,5% dos afastamentos do trabalho e constitui a quarta doença a determinar aposentadorias no País. Um estudo americano avaliou o custo do tratamento das dez doenças mais prevalentes em homens acima de 50 anos, excluídas as de origem neoplásica. Os resultados colocaram a osteoartrose em segundo lugar. Com o custo anual de 1.120 dólares, por paciente, a osteoartrose ficou à frente de doenças como hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e depressão1. Outro estudo, realizado na Itália, encontrou a quantia total de dois bilhões de euros anuais destinada ao tratamento da osteoartrose.

A idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença. A prevalência de osteoartrose cresce substancialmente após os 50 anos, nos homens, e após os 40 anos, nas mulheres; afeta cerca de 50% das pessoas acima de 65 anos e 85% dos indivíduos acima dos 75 anos. A propensão genética vem se mostrando importante fator de risco, principalmente em osteoartrose de mão e quadril, em que 50% dos casos parecem associados à história familiar da doença. Entre as mulheres, outro fator de risco é o efeito protetor do hormônio sobre a cartilagem, que diminui substancialmente após a menopausa em decorrência da queda nos níveis de estrogênio. Outros fatores como obesidade e ocupação profissional em atividades com impacto e sobrecarga freqüentes também exercem papel na degeneração da cartilagem.

Diagnóstico clínico

A primeira manifestação sintomática da osteoartrose é a dor articular após alguma atividade de impacto. Com a evolução da doença, atividades físicas de baixo impacto podem causar dor e até mesmo em situação de repouso o problema é capaz de produzir desconforto. Isso ocorre porque a desidratação que acompanha o envelhecimento da cartilagem reduz sua capacidade de absorver impactos e distribuir cargas. O resultado é a destruição progressiva do tecido cartilaginoso, o comprometimento do osso e a deformidade da articulação. O diagnóstico da osteoartrose é basicamente clínico. Em estágios iniciais da doença, o principal sintoma é a dor. Caso não haja presença de sinais da patologia à radiografia, pode-se lançar mão de exames como ressonância nuclear magnética e cintilografia óssea para o diagnóstico, mas sempre lembrando que a radiografia simples deve ser o exame inicial para avaliação. Apesar de revelarem sinais da osteoartrose, como a diminuição do espaço articular, os exames radiográficos exibem importante dissociação com o quadro clínico do paciente, principalmente em estágios iniciais da doença.

Isto é, nem sempre um paciente com sintomas de osteoartrose apresentará sinais severos de degeneração e comprometimento articular à radiografia e o mesmo vale para a situação inversa. Os exames de imagem são mais úteis no planejamento de condutas, principalmente cirúrgicas.

Prevenção e controle

Um projeto que visa desenvolver testes genéticos para identificar os indivíduos suscetíveis à osteoartrose foi iniciado em 2007 pela Arthritis Research Campaign, uma fundação britânica. O projeto arcOGEN, do inglês arthritis research campaign (arc) Osteoarthritis GENetics, deve analisar o genoma de oito mil amostras de DNA de indivíduos com osteoartrose e compará-las com amostras de seis mil indivíduos saudáveis. Até o encerramento, previsto para 2009, os pesquisadores pretendem desenvolver um teste barato para ajudar os médicos e pacientes a decidirem quais as melhores maneiras de evitar a progressão da doença. Os indivíduos testados poderão tomar providências em relação ao seu estilo de vida para, por exemplo, prevenir ou ao menos postergar o início da doença. O chefe do Grupo de Joelho da Santa Casa de São Paulo, Dr. Nilson Roberto Severino, recomenda atualmente que, uma vez realizado o diagnóstico da osteoartrose, o médico deve avaliar o paciente combinando fatores como a idade, o grau e a intensidade das atividades cotidianas, seu quadro clínico e radiográfico, para então definir com o paciente qual a melhor conduta. “Os principais objetivos do tratamento são o controle da progressão da doença com redução da dor e melhora da função articular”, comenta o ortopedista. Os tratamentos subdividem-se nas classes medicamentosa, fisioterapêutica e cirúrgica.

Tratamento medicamentoso

Para a fase aguda da osteoartrose, está indicado o uso de analgésicos e antiinflamatórios não esteroidais (AINEs). Esses últimos reduzem a dor e a inflamação, melhorando a função motora do indivíduo. Porém, não são recomendados para uso contínuo em razão dos efeitos colaterais que acarretam, principalmente gastrointestinais e hemodinâmicos. A opção dos chamados condroprotetores é a grande discussão no campo do tratamento farmacológico. Compostos por substâncias semelhantes às presentes na matriz cartilaginosa, esses medicamentos têm potencial de melhorar as dores e a limitação da função articular por apresentarem efeitos antiinflamatórios e estimularem o metabolismo dos condrócitos  as  células  especializadas  na  síntese  de  cartilagem.  A  glicosamina, conhecida também por glucosamina, é o suplemento condroprotetor mais conhecido.

Trata-se de uma molécula utilizada para a síntese das glicoproteínas e glicosaminoglicanos, estruturas encontradas no líquido sinovial, nos ligamentos e nas cartilagens. Disponível em múltiplas formas, sendo o hidrocloreto de glicosamina e o sulfato de glicosamina as mais comuns, sua eficácia está em estudos. Os resultados obtidos até hoje são ainda inconsistentes, mas a medicação vem sendo utilizada com segurança em longos ensaios clínicos, com efeitos colaterais semelhantes ao placebo.

Fisioterapia

O tratamento fisioterápico combinado com terapia de medicamentos é recomendado no pós-operatório de artroplastia e osteotomia. Pode ser utilizado tanto na fase aguda quanto periodicamente para a obtenção de resultados em longo prazo. Na fase aguda, a fisioterapia contribui para diminuir a dor e melhorar o movimento. Aplicações de fontes de calor ou frio (crioterapia) são medidas auxiliares nessa fase. O frio tem ação analgésica ao interferir diretamente na condução dos impulsos nervosos, diminuindo sua velocidade. Nos processos inflamatórios, o frio reduz a hiperemia e o edema, por meio de sua ação vasoconstritora. O calor, por sua vez, alivia a dor e aumenta a extensibilidade do tecido colágeno, diminuindo a rigidez articular. Em longo prazo, a fisioterapia melhora o fortalecimento muscular da região acometida, por meio de exercícios de mobilização passiva e ativa, isométricos, isotônicos e de eletroestimulação. Exercícios de baixo impacto, como a hidroginástica e a natação, também podem ser eficazes no fortalecimento muscular.

Cirurgia em último caso

O tratamento cirúrgico de osteotomias ou artroplastias só deve ser considerado após o fracasso dos tratamentos conservadores ou quando o quadro for grave. As osteotomias visam corrigir o eixo da articulação desviado pela degeneração decorrente da osteoartrose. Uma parte do osso é retirada cirurgicamente e, em seguida, é feita a fixação óssea.

Um bom exemplo é o caso de uma osteoartrose do joelho com um desvio acometendo mais um lado da articulação, o compartimento medial ou lateral, por exemplo, do que o outro, em que o desvio do eixo sobrecarrega uma região da articulação. As artroplastias consistem na substituição de componentes ósseos da articulação por próteses de material sintético como o polietileno, metal e cerâmica. São vários os tipos de próteses existentes e de casos em que é possível substituir apenas uma parte dos componentes, como nas próteses unicompartimentais de joelho. Mas o que se discute é quando optar pela artroplastia, uma vez que o material está sujeito ao desgaste.

Futuro dos tratamentos

Diversas linhas de pesquisa estão em andamento para encontrar formas de substituir o tecido cartilaginoso degenerado pela osteoartrose. A cultura de células da cartilagem (condrócitos) e a posterior reimplantação destas, no chamado transplante autólogo, é um dos métodos promissores em estudos. Estudos anteriores já demonstraram que o tecido cartilaginoso é capaz de se desenvolver e maturar quando reimplantado em pacientes com degeneração articular do joelho. Outra fonte para o reparo cartilaginoso são as células-tronco existentes na medula óssea, que podem ser estimuladas a se diferenciar nos condrócitos, se manipuladas de acordo. “O futuro do tratamento da osteoartrose é a manipulação de células-tronco; elas deverão substituir a cartilagem desgastada”, afirma Dr. Nilson, da Santa Casa. Enquanto esse futuro não chega, é possível evitar, ou adiar, ao menos, a manifestação da osteoartrose recomendando aos pacientes de meia-idade a adoção de medidas que garantam o fortalecimento muscular, como a prática de atividade física diária e a manutenção do peso ideal.

Fonte: Por Rafel Carboni, www.revistapesquisamedica.com.br

2018-04-14T05:23:42+00:00

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